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Dormência nas mãos quando pedala? Saiba tratá-la

Pernas e costas não são as únicas partes do corpo sujeitas a lesões por sobrecarga quando se trata de pedalar. Os braços, e mais especificamente as mãos, também sofrem grande pressão durante a atividade. Assim, acabam respondendo por um terço das lesões em ciclistas. Uma das mais comuns é conhecida como “paralisia do ciclista” ou “paralisia do guidão”. Mestre e doutor em ortopedia e traumatologia, o chefe do Grupo de Cirurgia de Mão da Santa Casa de São Paulo, Antonio Carlos da Costa, explica como ocorre o problema, quais os sintomas mais comuns e o que fazer para preveni-lo.

O que é
A “paralisia do ciclista” ou “paralisia do guidão” é uma lesão que ocorre no nervo ulnar — um dos três principais nervos da mão, ao lado do radial e do mediano —, que passa por um túnel na altura do punho, chamado canal de Guyon, e é responsável pela sensibilidade do quinto dedo (mínimo) e metade do quarto dedo, além dos movimentos finos da mão. A lesão ocorre quando algum fator – um trauma, tumor ou qualquer outro processo –, altera o funcionamento normal do nervo, comprometendo a sensibilidade e/ou a motricidade da mão.
Causas
A compressão do nervo ulnar dentro do canal de Guyon é a principal causa da lesão em ciclistas, devido ao longo tempo que passam com as mãos apoiadas no guidão. Esse, porém, não é o único fator. Além da pressão exagerada na região hipotenar (localizada na palma da mão, abaixo do dedo mínimo), também favorecem o problema a hiperextensão do punho (principalmente quando o apoio das mãos é feito na parte inferior do guidão) e a predisposição em relação à anatomia do canal de Guyon.
Diagnóstico
O diagnóstico pode ser feito observando alguns sintomas. No início, o ciclista sente um formigamento no lado ulnar da mão — isto é, no dedo mínimo e na metade do dedo anelar —, que melhora ao balançar a mão ou quando ele alterna a posição da pegada no guidão. com o agravamento do quadro, esses dedos ficam anestesiados e há dificuldade em realizar alguns movimentos finos da mão, como aproximar o dedo mínimo do anelar ou realizar a pinça do mínimo com o polegar. No começo, quando o ciclista encerra o exercício, os sintomas geralmente desaparecem rápido. com o passar do tempo, porém, podem persistir por dias, semanas ou até meses. Na maioria dos casos, a atenção aos sintomas é suficiente para o diagnóstico clínico, mas exames de imagem ou uma eletroneuromiografia podem auxiliar nessa identificação.
Tratamento
Quando a lesão se torna crônica, o tratamento é feito à base de medicamentos anti-infl amatórios, talas e fi sioterapia. A necessidade de cirurgia é muito pouco frequente. No entanto, a melhor forma de resolver o problema é tratando da causa. enquanto houver hiperpressão sobre a região hipotenar durante a atividade, os sintomas permanecerão ou até piorarão.
Prevenção
Para aliviar a hiperpressão sobre a região hipotenar, a dica é alternar a posição das mãos sobre o guidão.
- Também é importante que o ciclista utilize luvas com proteção acolchoada, principalmente na região hipotenar.
- É fundamental a aquisição de uma bicicleta com tamanho apropriado e também o ajuste da posição com auxílio de um bom especialista.
Matéria publicada em: Revista VO2 Bike

Radiografia do Skate – O corpo

Texto Charles Franco

Cair é tão presente em nosso dia a dia como o prazer de andar de skate e acertar novas manobras. É comum ouvirmos frases do tipo: “faz parte” ou então “é assim que se aprende”. Mas, convenhamos, somente quem sente na pele as dores de impactos, torções e ralados sabe o quão gratificante é conseguir voltar uma manobra sem que esses percalços estejam presentes.

Como qualquer atividade física de alto rendimento, as lesões provocadas pela prática do skate são constantes e o desgaste devido aos movimentos e esforços repetitivos são inevitáveis. Pegue como exemplo atletas de outros esportes como: ginástica olímpica, lutadores profissionais, nadadores, ciclistas e etc. O convívio com a dor, sessões de fisioterapia e anti-inflamatórios fazem parte da vida dessas pessoas, e com o skatista não é diferente. Apesar de ser encarado como esporte não convencional, o skate exige ritmo de treinamento e sessões diárias.

Um skatista não precisa necessariamente seguir o profissionalismo para desenvolver problemas crônicos e um quadro ortopédico peculiar, como ossos e más formações por repetidas contusões em locais como articulações, joelhos, tornozelos e tendões. Esse fato leva o skatista a aprender, na prática, técnicas de recuperação, como analgesia (gelo), repouso e como tratar de uma lesão.

Procuramos alguns profissionais da saúde, como médicos, cirurgiões dentistas e fisioterapeutas, e identificamos as partes do corpo de um skatista que mais sofrem impactos e desgastes. Os machucados mais comuns, o tratamento e o que você pode fazer para fortalecer e prolongar suas sessões, evitando que elas se repitam com maior frequência.

Punho
Apesar de fazer parte dos membros superiores, o punho é uma das partes do corpo que mais sofre com impactos decorrentes das quedas de skate. Isso acontece em função de nosso reflexo involuntário: ao perceber o desequilíbrio, colocamos a mão no chão para proteger do tombo.
A região do punho é conhecida como carpo, um grupo de pequenos ossos (radio distal, escafóide, semilunar, piramidal, pisiforme, trapézio, trapezóide, capitato e hamato), que são responsáveis pelos movimentos da mão.  Segundo o ortopedista Dr. Antonio Carlos da Costa, chefe do grupo de cirurgia de mão da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, cerca de 80% dos casos de fratura provocados pelo skate ocorrem no osso escafóide. “É muito comum o skatista cair e fraturar o escafóide, porém, quando vai ao médico, em muitas situações a lesão não é detectada na radiografia e só vai aparecer depois, quando o skatista ainda continua com dor. É muito importante diagnosticar a lesão em sua fase aguda, pois quanto mais tempo demorar para corrigir o problema, mais difícil será a recuperação”. Esse tipo de lesão é mais comum entre skatistas que não possuem muita experiência, pois ao cair tentam apoiar o corpo para aliviar a queda.

O que fazer — No exato momento da queda, caso não tenha uma unidade de socorro por perto, improvise uma tala, coloque gelo por 15 minutos no máximo e vá direto a um pronto socorro para ter atendimento profissional.

Boca
Também acaba sofrendo com as quedas e pancadas provocadas pelo skate, que pode acabar batendo no chão, voltar e se chocar com gengivas e dentes. Nesses casos, fraturas de dentes e cortes em gengivas são comuns.

O que fazer — A rapidez é um fator primordial para que o seu sorriso continue o mesmo de sempre. Para te ajudar, consultamos a cirurgiã dentista especializada em endodontia pela FUNDECTO (USP), Juliana Xavier da Silveira. “Sempre que ocorre a quebra de um dente ou ele avulsiona (o dente se solta do maxilar), o mesmo fica desidratado. A melhor coisa a fazer é pegá-lo, limpar em água corrente por no máximo 2 segundos sem esfregar e colocá-lo em um meio de armazenamento, mergulhado em um copo de leite, soro fisiológico ou dentro da própria boca. Feito isso, vá direto a um cirurgião dentista em até 30 minutos após o trauma, dessa forma é possível recuperar o dente. Caso não consiga, a chance de insucesso aumenta muito. Se sofrer uma lesão na gengiva, procure lavar somente com água e consultar um profissional para certificar-se que não há fratura no dente ou maxilar”.

Joelho
Os grandes responsáveis por impulsionar e absorver impactos, nossos joelhos são fundamentais para movimentarmos as pernas. Ao lado dos tornozelos, são os pólos de nossos membros inferiores com maior exigência enquanto estamos sobre um skate. E por serem bastante exigidos, os longos anos de dedicação como skatista podem causar desgaste em articulações, lesões em tendões e ligamentos. É muito comum skatistas que já sofreram intervenções cirúrgicas devido a entorses ou pancadas mais vigorosas. Por esse motivo, um trabalho muscular e de fortalecimento é fundamental para evitar problemas mais sérios.

Tornozelo
Nossos tornozelos são as articulações que estão mais próximas do skate e, portanto, sofrem traumas e torções com maior regularidade. São eles que nos permitem fazer movimentos para dar ollies e flips, porém, basta pisar errado na volta de uma manobra que aquela pontada de dor aparece no ato. Os tendões e ligamentos são os mais afetados, e quanto mais longa a carreira de um skatista, maior o desgaste da região. É sempre muito importante ter um acompanhamento médico para que o problema não se torne crônico. Em muitas ocasiões, um tratamento que não tenha sido feito conforme as orientações de um profissional pode gerar graves problemas.

Recuperação
— O tratamento para recuperação de lesões em articulações – seja no punho, joelho ou tornozelos – são semelhantes, pois tratam dos danos ocorridos em ligamentos e tendões. O Dr. Thiago Zanoni Neves “Pino”, skatista, fisioterapeuta especializado em fisiologia do exercício e idealizador do projeto Skate Saúde, comentou um pouco sobre reabilitação e recuperação: “A reabilitação destas lesões é dividida em tratamentos conservadores (medicamentoso e imobilização) ou cirúrgicos, dependendo do grau da lesão. O tratamento fisioterapêutico busca a diminuição da dor (através de técnicas de eletroterapia e termoterapia), volta da amplitude de movimento (através de técnicas de alongamento ativo e passivo), restabelecimento da força (treino de força em cadeia cinética aberta e fechada) e da propriocepção (percepção do movimento e da orientação das partes do corpo com relação ao próprio corpo e ao espaço treinado através de exercícios que envolvam deslocamento e equilíbrio) e a volta gradativa ao esporte, onde o principal foco é fazer com que o skatista retorne a prática do skate com segurança e em menor tempo possível”.

Prevenção 
Uma forma de prevenir a ocorrência de lesões é sempre realizar um bom aquecimento antes das sessões de skate. Fazer alongamentos e manobras simples, como variações de ollie e manobras de solo. É importante fazer um trabalho de fortalecimento e resistência, através de musculação e exercícios cardiorespiratórios (como corrida e natação), assim como de flexibilidade (Yôga, Pilates), exercitando o corpo como um todo. Dessa forma o skatista consegue prolongar sua vida útil sobre o skate.

Fonte: http://cemporcentoskate.uol.com.br/

Explorar capacidade de realização das mãos pode trazer benefícios

MARCOS DÁVILA

da Folha de S.Paulo

Para o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.), a mão era a “ferramenta das ferramentas”. Mas pode ter sido justamente essa habilidade de criar instrumentos cada vez mais complexos que acabou deixando para a mão somente as tarefas mais mecânicas. O poder criativo de transformar a realidade, de dar vida a objetos, foi se tornando cada vez mais raro nas grandes cidades e, no ideário consumista, as mãos livres –e os seus respectivos polegares opositores, uma das diferenças evolutivas mais importantes entre o homem e o restante dos animais– foram relegadas a apertar botões, passar o cartão no caixa do banco eletrônico, contar o dinheiro, pagar e levar.

Mas, segundo psiquiatras, terapeutas, neurologistas e artesãos, o poder de criação e realização das mãos tem papel fundamental na recuperação da auto-estima e do bem-estar e traz resultados positivos para o aumento da capacidade de concentração e de planejamento de quem as usa.

“O homem de hoje está mais acostumado a desejar e escolher (ou ordenar) do que a imaginar e realizar”, diz a psiquiatra Anna Veronica Mautner, colunista do Equilíbrio, que, no recente artigo “A violência, a mão e o polegar” (ed. 5/8), escreveu sobre a importância de atividades que valorizam o uso da mão. “Não quero dizer que a pessoa tenha de ser artista, mas atos cotidianos como fritar um ovo do jeito que você gosta, com a gema dura ou mole, já dá uma sensação de bem-estar. O fato de realizar algo eleva a auto-estima”, diz a psiquiatra.

“O barro me ensinou a ter paciência. Ele tem um tempo próprio. É preciso esperar para secar, tem a primeira queima e, às vezes, a peça quebra porque fica com ar dentro. Aprendi a baixar o meu nível de cobrança, não existe o certo e o errado quando você está criando”, diz a professora de inglês Marília Tardin, 44.

Marília procurou as aulas de cerâmica “como terapia” depois de um tratamento de saúde que a fez se afastar do trabalho. “Lá eu consigo me desligar dos problemas”, diz.

Como ela, muitas pessoas procuram uma atividade manual para aliviar as tensões do dia-a-dia. É o que diz Lucia Eid, 43, ceramista e proprietária da escola Olaria Paulistana (na Vila Madalena, em São Paulo), onde Marília é aluna. “As pessoas chegam aqui com uma carga de ansiedade muito grande, mas, com o tempo, elas vão se soltando e se transformando.”

Lucia também passou por uma metamorfose na vida: em 1998, vendeu o parque de diversões no qual comandava 250 funcionários e resolveu se dedicar mais à família e ao seu hobby. “Comprei um forno e instalei-o na varanda do meu apartamento. Fiquei alucinada, cheguei a fazer mil peças para uma loja. Foi quando resolvi abrir uma escola e uma loja.”

Sem estresse e com mais memória

O psicólogo e psicomotricista André Trindade acredita na importância de “refuncionalizar as mãos”. “Na maior parte das vezes, usamos a mão mecanicamente, sem prestar atenção”, diz. Segundo Trindade, formado na Bélgica, a melhor maneira de mudar isso é, literalmente, meter a mão na massa. “No exercício de atividades como trabalhar com cerâmica, a função da mão não é mecânica, você se reconhece o tempo todo”, afirma.

A dona-de-casa Golda Soriano, 62, estava se sentindo só e desocupada depois que os seus filhos saíram de casa. E foi Alexis, sua neta de 12 anos, com o desejo de aprender a costurar, que a despertou para as atividades manuais criativas depois de 30 anos longe delas. Golda começou a ensinar Alexis a costurar, a pregar botão e a fazer tricô. “É como andar de bicicleta, a gente não esquece”, diz Golda, que aprendeu a usar as mãos no colégio. “As meninas aprendiam a bordar e os meninos, marcenaria. Era uma matéria normal, como latim”, lembra.

“Uma pessoa pode ter uma dificuldade com memorização de histórias, não lembrar o que aconteceu ontem. Mas se ela aprendeu a bater um prego na parede, não vai esquecer. Você não esquece algo que aprendeu a fazer com o corpo”, afirma o neurologista João Radvany, do hospital Albert Einstein.

O neurologista explica que as mãos, ao lado dos olhos e da boca, são as partes do corpo que têm maior representação no córtex cerebral. “E quanto mais o homem usa esses órgãos, mais essas áreas cerebrais se expandem”, diz. De acordo com Radvany, as atividades manuais são usadas no tratamento de pacientes com dificuldade de planejamento e em disfunções de memória, por exemplo.

“Esse tipo de atividade também é utilizada em tratamentos com idosos e pacientes com mal de Alzheimer”, diz o pesquisador Ivan Izquierdo, do Centro da Memória do Departamento de Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

O prazer do tato

“Não é pelo dinheiro, é pelo prazer e pela necessidade de estar em contato com a terra. Gosto de trabalhar na terra com as mãos, de ficar com o joelho sujo, cavoucar. É quando eu sou eu mesma, estou inteira ali. Me sinto conectada com o mundo e comigo mesma. Me sinto viva”, afirma a farmacêutica e bioquímica de formação, Angela Scheepstra-Wenzel, 50. Ela pegou gosto pelas atividades manuais quando foi morar na Holanda com o marido. “Uma vizinha me ensinou a fazer bonecas de pano”, diz.

Mas sua grande paixão eram mesmo as plantas e, ao voltar ao Brasil, há cerca de dez anos, escolheu uma casa com jardim para morar. Suas plantas acabaram chamando a atenção da vizinhança e um amigo lhe chamou para trabalhar em seu jardim. “É muito bom quando as pessoas reparam no trabalho que você fez. É bom para o ego”, diz Angela, que, há três anos, trabalha como paisagista.

De acordo com a neuropsicóloga Anita Taub, a mudança de foco de atividades abstratas e intelectuais para ações concretas e objetivas provoca estímulos diferentes no cérebro. Segundo ela, pessoas que desenvolvem um trabalho intelectual durante muitas horas e com uma sobrecarga de informação utilizam um certo tipo de função cerebral, como o raciocínio e a memória. Ao mudar a atenção para as mãos, elas ativam outras partes do cérebro.

“Por que pedimos para um paciente com dor apertar uma bolinha? Ele desfoca a atenção para mão. A dor sai da área cognitiva e passa para a motora e ele pára de pensar que está com dor”, exemplifica Anita, que indica trabalhos de habilidade manual para pacientes angustiados e ansiosos.

Para além de toda a função terapêutica, o simples prazer de trabalhar com as mãos já é o bastante para aquela tia que não larga o tricô, o marido que não sai da oficina de marcenaria por nada, a mulher que passa horas mexendo a terra no jardim. E a satisfação pessoal é tanta que o hobby torna-se profissão.

Profissional com as mãos

O empresário Alexandre Bacellar, 47, largou sua confecção de roupas, depois de 20 anos, para virar pizzaiolo. Bacellar é o típico “papai sabe tudo”: gosta de fazer coisas em casa, desde instalar a antena de televisão no telhado até construir carrinhos para o filho. “Sempre fui assim. Quando eu era criança, fazia pipas e vendia na feira. Durante a faculdade de economia, produzia sapatos de camurça para vender aos amigos. Com o dinheiro comprei minha primeira moto”, diz.

Dez anos atrás, Bacellar montou um forno de assar pizzas no quintal para receber os amigos. “A primeira massa ficou horrorosa. Nunca imaginei que teria uma pizzaria como negócio”, diz. Mas as “pizzadas” –em que ele mesmo era o chef-pizzaiolo– foram ficando mais freqüentadas e Bacellar resolveu abrir seu restaurante em Santana do Parnaíba, na região metropolitana de São Paulo, o Bendita Hora.

Mesmo depois de abrir uma filial na capital, ele continua com o avental de pizzaiolo no corpo –além de ter feito, com as próprias mãos, toda a reforma do imóvel com material comprado em ferro-velho. “Estou sempre com a mão na massa. E tento passar esse modo artesanal de fazer pizzas para os meus funcionários. As coisas só acontecem se são feitas com carinho.”

Esse caráter prazeroso das atividades manuais também levou o empresário José Pillon, 45, a largar uma rede de lojas de roupas para se dedicar à marcenaria, sua atividade de lazer preferida. “Sem dúvida nenhuma, a parte mais gostosa é o trabalho da marcenaria em si. Há muito para se olhar numa pequena peça de madeira, seguir o veio com as mãos. Sempre vejo as pessoas passando a mão nas peças”, afirma o marceneiro, que aprendeu o ofício com o pai.

“Meu avô também era marceneiro e o meu pai era médico. Juntei as duas coisas e virei um ortopedista”, brinca o médico Antonio Carlos da Costa, que é chefe da equipe de microcirurgias da Santa Casa de São Paulo. Cirurgião-ortopedista especializado em mãos, Costa lembra que, quando criança, não saia da oficina do avô e sabe que o que aprendeu ali faz dele um profissional melhor.

“O nosso trabalho precisa muito da destreza das mãos. Às vezes, temos de dar oito pontos numa veia com menos de um milímetro de largura com uma linha mais fina que um fio de cabelo”, explica. “Mas a melhor parte é quando uso as ferramentas que eu mesmo fiz em uma operação. Fico pensando que eu usei a mesma pedra de afiação que meu avô usava”, diz o cirurgião.

“A mão é tudo na vida de um sujeito, é o grande órgão executor”, afirma Costa, sobre a importância das operações de reimplante que faz. “São as mais cansativas e trabalhosas, mas também são as mais recompensadoras.” Não é para menos que, na etimologia, a mão significa princípio, ação, doação e labor.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/

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Uma recuperação surpreendente

Era um sábado de março, geralmente um dia mais tranquilo no Santuário. Porém, cedo os chimpanzés mais antenados com a rotina souberam que seria diferente. O chimpanzé Pinho (Felipinho) ia ser operado. Uma equipe multidisciplinar de médicos humanos e veterinários se preparava para sua missão. Pinho já estava isolado em seu dormitório. Nega, sua companheira, estava em outro. O tratador Rangério dos Santos já estava com a pistola anestésica disfarçada no corredor e a médica veterinária Dra. Camila Gentile brincava com o chimpanzé para distraí-lo. Porém, eles sabiam que a rotina era diferente e que algo ia acontecer. Começaram a vocalizar e toda a cidade dos chimpanzés entrou em ebulição, uns se comunicando com os outros.

Um dardo anestésico foi espetado na perna e a anestesia começou a fazer efeito. Nega, quando viu Pinho sair na maca, pensou que ele estava morto e gritou mais ainda, alertando toda a comunidade. Nós tentamos tranquilizá-la. Já fazia mais de um ano que ninguém era anestesiado no Santuário para nenhum procedimento médico.

No centro cirúrgico, todos aguardavam a chegada do paciente que pesa mais de 90 kg, com uma ótima saúde pelas análises de sangue realizadas posteriormente, mas com um tumor num dedo de sua mão esquerda. Em menos de um ano tinha crescido rapidamente. Parecia benigno, mas inutilizava o dedo do meio que já não podia movimentar.

O Prof. Dr. Antônio Carlos da Costa, cirurgião médico especialista em Cirurgia de Mão e Microcirurgia da Santa Casa de São Paulo e do Hospital Sírio-Libanês, achava que não tinha comprometido o osso, porém só a radiologia daria o veredito. O médico veterinário, Dr. Márcio José Monteiro Corrêa, do Jockey Club de Sorocaba, com seu equipamento de radiologia, confirmou a suspeita de que  o osso não estava comprometido, mas o melhor era extirpar, já que o dedo estava inutilizado totalmente.

O Dr. Giancarlo Cavalli Polesello, médico ortopedista da Santa Casa de São Paulo e do Hospital Sírio-Libanês (meu genro) e médico cirurgião do Santuário desde sua criação, concordou com a amputação. Ambos cirurgiões fizeram o trabalho, com uma perícia inigualável, que se refletiria na recuperação surpreendente e perfeita que Pinho teve.

O grande drama das cirurgias dos grandes primatas é o pós-operatório. Por isso, quando a cirurgia é muito extensiva, é impraticável. O primata vai tirar o próprio curativo, vai mexer na ferida, será muito difícil mantê-lo vivo. Porém, Pinho foi um exemplo. Manteve o curativo por quase 48 horas e quando ele o retirou, foi com cuidado e não mexeu nos pontos internos nem externos.

Pinho é um sobrevivente. Tem aproximadamente 28 anos de idade. Viveu sempre num Circo, em condições terríveis. Se relacionava com a Nega, de 38 anos, através das grades e a engravidou várias vezes. Dois de seus filhos, que não os conhecem, estão conosco: Martín e Carioca. Pinho apanhou muito no Circo, era rebelde e, para domá-lo, o amarravam e batiam nele até desfalecer. Quando chegou ao Santuário, odiava os humanos, destruía as portas, batia em tudo que fosse símbolo de domínio humano. Hoje é um ser diferente. Aprendeu a distinguir que nem todos os humanos são como os circenses, começou a ter afeição por nós e alguns tratadores, até a própria Dra. Camila, que contribuiu na anestesia, ele não guardou rancor. Ele sabe que foi pelo bem dele. Agora nos mostra a mão com o dedo amputado e agradece. Ele também sabe que aquele tumor poderia matá-lo e nós o tínhamos tirado de seu corpo com precisão e maestria.

Aos sete dias após a cirurgia, sem ter infecção na ferida, o juntamos com a Nega, que o vigiava do recinto ao lado. Se abraçaram, trocaram “grooming” e ficaram mais perto do que nunca. Cada vez que lhe levamos um agrado, nos mostra a mão e com um gesto, nos agradece.

Uma equipe multidisciplinar de dois cirurgiões humanos e três médicos veterinários demonstrou que é possível juntar os esforços, conhecimento e habilidade cirúrgica para livrar um chimpanzé de um tumor inesperado, e se recuperar rapidamente e sem sequelas.

Dr. Pedro A. Ynterian

Presidente, Projeto GAP Internacional

 Fonte: http://www.projetogap.org.br/

Estalar os dedos faz mal? Mito ou verdade?

E muitos costumam dizer que estalar os dedos faz mal. Isso é verdadeou mito? O ortopedista explica que a medicina, apesar de não ser uma ciência exata, deve ser baseada em evidências científicas e não apenas na observação de poucos casos. E, segundo ele, não há evidências científicas que comprovem que o ato de estalar os dedos faça algum mal. “Obviamente cada caso deve ser avaliado individualmente, pois outras afecções podem estar presentes”, diz ele.

Outra frase muito escutada pelas pessoas que gostam de estalar os dedos é a de que isso engrossa as juntas, mas, segundo Dr. Antonio, também não há evidências na literatura médica de que isso seja verdade.

Novamente, não há evidências na literatura médica que indiquem associação entre estalar os dedos e “engrossar as juntas”. Outro mito, segundo ele, é o de que estalar os dedos pode causar artroses.

Portanto, se você gosta de estalar os dedos, não se preocupe com o que escuta, tudo não passa de mitos, que ainda não foram comprovados. “Pelo fato de o ato de estalar os dedos não estar, aparentemente, associado com lesões degenerativas, há muito poucos estudos sobre o assunto. Porém, cada caso deve ser avaliado individualmente”, finaliza ele.

Fonte: http://idmed.com.br/

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Smartphone mal usado pode afetar a saúde

Que ficar o tempo todo trocando mensagens acaba isolando as pessoas do convívio social já se sabe. A novidade vem agora de especialistas da saúde: o uso constante e errado dos aparelhinhos acarreta problemas posturais e tendinite.

A explicação é simples: pelo tamanho reduzido do smartphone, o polegar acaba sendo usado para digitar, navegar e segurar o aparelho. Explica o ortopedista Antonio Carlos da Costa, especialista em cirurgia de mão, em entrevista à Jovem Pan Online. “Diferente dos outros dedos, muito ágeis, o polegar não é.

Quando seguro um celular uso o polegar para digitar de uma maneira que precisa chegar à adução máxima – posição muito ruim para os tendões. Devido aos movimentos repetitivos, os tendões ficam tensos dentro do túnel do Carpo, começa a haver um atrito que provoca inflamação e dor. É a chamada tenossinovite estenosante”. Mas o uso em excesso do celular, bem como do tablet, tem outro agravante, as posições inadequadas do corpo – do ombro, do pescoço e da cabeça.

A fisioterapeuta Amanda Hiunes Rodriguez, da Clínica Vivenciar Studio do Movimento, em São Paulo, cita a posição anteriorizada e fletida da região do pescoço e o levantamento de ombro, que favorece a compressão de nervos cervicais podendo causar parestesia (sensação de formigamento) de braços e mãos, fraqueza muscular, boca seca, enxaquecas, além de encurtamento muscular e rigidez.

“A alteração se dá principalmente na cintura escapular, que engloba alterações na coluna cervical e articulação do ombro. Isso ocorre, pela manutenção da isometria dos membros superiores e anteriorização da cabeça de forma constante.

Além dessa alteração biomecânica, o que implica um impacto maior é o aumento do tempo concentrado nesses aparelhos, forçando a musculatura ocular, o que causa vista cansada e outros distúrbios como dores de cabeça”. Como recomendação, a fisioterapeuta sugere que os usuários se policiem ao usar os aparelhos, adotando uma postura ereta e os ombros relaxados.

Além disso, é importante realizar pausas e alongamentos ao longo do dia para descanso da concentração, visão e permitir o relaxamento dos membros superiores e a mudança de posição do corpo.

Os alongamentos devem ser específicos para a região da cintura escapular, punho e mãos e serem realizados com frequência, tendo ou não desconforto, para que atuem como prevenção de encurtamentos musculares e tensões.

Fonte: http://espacovivamais.com.br/

Fogos de artifício e lesão nas mãos‏

É nos períodos de festas que serviços de emergência e hospitais registram os mais altos índices de queimaduras em mãos, devido aos fogos de artifício. Especialmente nos meses de junho e julho, com as tradicionais festas juninas, o número de pessoas com lesões aumenta, o que reacende a necessidade de alerta para esta atividade.
Os acidentes acontecem tanto com crianças quanto com adultos. Os adultos apresentam as lesões mais graves por manipularem fogos mais potentes. Já as crianças apresentam geralmente queimaduras de primeiro e de segundo grau. Além das festas juninas, no Reveillon e nas finais de campeonato de futebol temos os outros picos de incidência de lesões desse tipo.
Além das lesões térmicas, ocorrem também as lesões mecânicas pela explosão da pólvora. Nas mãos, os fogos de artifício provocam desde queimaduras leves e lacerações até amputação de dedos, ou mesmo de toda a mão. Não podemos nos esquecer que os fogos de artifício podem, também, provocar surdez, cegueira e em alguns casos, a morte”, completa.
Confira abaixo algumas dicas para evitar acidentes:

  • Adquira os fogos de empresas devidamente regulamentadas e siga as instruções do fabricante;
  • Evite, sempre, segurar os fogos com as mãos;
  • O ideal é apoiá-los em base firme, acender um longo pavio para que dê tempo de se distanciar no momento do estouro dos fogos;
  • Solte os fogos somente em áreas abertas, longe de substâncias inflamáveis e de redes elétricas;
  • Nunca tente acender fogos que já falharam uma vez;
  • Fogos de artifício não combinam com infância nem com álcool.

Se, mesmo assim, um acidente acontecer, o especialista indica que crenças devem ser esquecidas e que a pessoa deve procurar imediatamente um médico. “Lave o ferimento com água corrente, cubra com tecido limpo e procure rapidamente cuidados médicos. Não coloque de maneira alguma substâncias como pasta de dente, clara de ovo ou borra de café”.
O importante mesmo é usar os fogos com responsabilidade. Eles são muito bonitos, porém são, da mesma forma, perigosíssimos. Não estrague a sua festa nem a de seus amigos.

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História da Cirurgia da Mão na Santa Casa de São Paulo

Orlando Graner formou-se em 1941 e logo iniciou seu internato no Pavilhão “Fernandinho Simonsen”, da Santa Casa de São Paulo, onde criou e chefiou o primeiro Grupo de Cirurgia da Mão no Brasil, de 1945 a 1968.

Discípulo dos doutores Lauro Barros de Abreu e Orlando Graner, o Dr. Edmur Isidoro Lopes iniciou internato no “Pavilhão” em 1952 e assumiu o Grupo em 1968, dirigindo-o com grande maestria até 1994, período em que treinou nomes de destaque no cenário nacional, como os doutores Vilnei Mattioli Leite, Nelson Mattioli Leite, Luiz Afonso Pereira, Heitor J. R. Ulson, Gilberto Ohara, Trajano Sardemberg, entre outros.

Em 1994, o Dr. Carlos A. Cauchiolli assumiu o Grupo por curto período, sucedido, em 1995, pelo Dr. Ivan Chakkour. Na sua gestão, desenvolveu-se o atual Grupo de Cirurgia da Mão e Microcirurgia do Pavilhão Fernandinho Simonsen. Chefiou o Grupo até 2008.  Com a reformulação dos Grupos, promovida pelo Prof. Dr. Osmar Avanzi, assume o Dr. Antonio Carlos da Costa, que comanda o Grupo até o momento.

 

Autor Prof. Dr. Antonio Carlos Da Costa

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O que é a especialidade “Cirurgia da Mão”

A especialidade cirurgia da mão nasceu durante a Segunda Guerra Mundial, diante da necessidade de tratamento específico ao grande número de lesões nas mãos.  O pioneiro foi Sterling Bunnell, considerado o pai da cirurgia da mão. No Brasil, destacamos, entre os pioneiros, os doutores Alípio Pernet, Danilo Gançalves, Henrique Bulcão de Moraes, Lauro Barros de Abreu e, especialmente, Orlando Graner.

A especialidade “cirurgia da mão” trata de doenças congênitas degenerativas, traumáticas, tumorais, inflamatórias, enfim, todas as afecções relacionadas à mão. Devido à freqüência das lesões dos nervos periféricos e das lesões cutâneas nas mãos, os cirurgiões da mão tratam destas lesões em todo o corpo, incluindo membros, cabeça e tronco.

Autor Prof. Dr. Antonio Carlos Da Costa

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A capacidade das mãos

MARCOS DÁVILA
da Folha de S.Paulo

Para o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.), a mão era a “ferramenta das ferramentas”. Mas pode ter sido justamente essa habilidade de criar instrumentos cada vez mais complexos que acabou deixando para a mão somente as tarefas mais mecânicas. O poder criativo de transformar a realidade, de dar vida a objetos, foi se tornando cada vez mais raro nas grandes cidades e, no ideário consumista, as mãos livres –e os seus respectivos polegares opositores, uma das diferenças evolutivas mais importantes entre o homem e o restante dos animais– foram relegadas a apertar botões, passar o cartão no caixa do banco eletrônico, contar o dinheiro, pagar e levar.

Mas, segundo psiquiatras, terapeutas, neurologistas e artesãos, o poder de criação e realização das mãos tem papel fundamental na recuperação da auto-estima e do bem-estar e traz resultados positivos para o aumento da capacidade de concentração e de planejamento de quem as usa.

“O homem de hoje está mais acostumado a desejar e escolher (ou ordenar) do que a imaginar e realizar”, diz a psiquiatra Anna Veronica Mautner, colunista do Equilíbrio, que, no recente artigo “A violência, a mão e o polegar” (ed. 5/8), escreveu sobre a importância de atividades que valorizam o uso da mão. “Não quero dizer que a pessoa tenha de ser artista, mas atos cotidianos como fritar um ovo do jeito que você gosta, com a gema dura ou mole, já dá uma sensação de bem-estar. O fato de realizar algo eleva a auto-estima”, diz a psiquiatra.

“O barro me ensinou a ter paciência. Ele tem um tempo próprio. É preciso esperar para secar, tem a primeira queima e, às vezes, a peça quebra porque fica com ar dentro. Aprendi a baixar o meu nível de cobrança, não existe o certo e o errado quando você está criando”, diz a professora de inglês Marília Tardin, 44.

Marília procurou as aulas de cerâmica “como terapia” depois de um tratamento de saúde que a fez se afastar do trabalho. “Lá eu consigo me desligar dos problemas”, diz.

Como ela, muitas pessoas procuram uma atividade manual para aliviar as tensões do dia-a-dia. É o que diz Lucia Eid, 43, ceramista e proprietária da escola Olaria Paulistana (na Vila Madalena, em São Paulo), onde Marília é aluna. “As pessoas chegam aqui com uma carga de ansiedade muito grande, mas, com o tempo, elas vão se soltando e se transformando.”

Lucia também passou por uma metamorfose na vida: em 1998, vendeu o parque de diversões no qual comandava 250 funcionários e resolveu se dedicar mais à família e ao seu hobby. “Comprei um forno e instalei-o na varanda do meu apartamento. Fiquei alucinada, cheguei a fazer mil peças para uma loja. Foi quando resolvi abrir uma escola e uma loja.”

Sem estresse e com mais memória

O psicólogo e psicomotricista André Trindade acredita na importância de “refuncionalizar as mãos”. “Na maior parte das vezes, usamos a mão mecanicamente, sem prestar atenção”, diz. Segundo Trindade, formado na Bélgica, a melhor maneira de mudar isso é, literalmente, meter a mão na massa. “No exercício de atividades como trabalhar com cerâmica, a função da mão não é mecânica, você se reconhece o tempo todo”, afirma.

A dona-de-casa Golda Soriano, 62, estava se sentindo só e desocupada depois que os seus filhos saíram de casa. E foi Alexis, sua neta de 12 anos, com o desejo de aprender a costurar, que a despertou para as atividades manuais criativas depois de 30 anos longe delas. Golda começou a ensinar Alexis a costurar, a pregar botão e a fazer tricô. “É como andar de bicicleta, a gente não esquece”, diz Golda, que aprendeu a usar as mãos no colégio. “As meninas aprendiam a bordar e os meninos, marcenaria. Era uma matéria normal, como latim”, lembra.

“Uma pessoa pode ter uma dificuldade com memorização de histórias, não lembrar o que aconteceu ontem. Mas se ela aprendeu a bater um prego na parede, não vai esquecer. Você não esquece algo que aprendeu a fazer com o corpo”, afirma o neurologista João Radvany, do hospital Albert Einstein.

O neurologista explica que as mãos, ao lado dos olhos e da boca, são as partes do corpo que têm maior representação no córtex cerebral. “E quanto mais o homem usa esses órgãos, mais essas áreas cerebrais se expandem”, diz. De acordo com Radvany, as atividades manuais são usadas no tratamento de pacientes com dificuldade de planejamento e em disfunções de memória, por exemplo.

“Esse tipo de atividade também é utilizada em tratamentos com idosos e pacientes com mal de Alzheimer”, diz o pesquisador Ivan Izquierdo, do Centro da Memória do Departamento de Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

O prazer do tato

“Não é pelo dinheiro, é pelo prazer e pela necessidade de estar em contato com a terra. Gosto de trabalhar na terra com as mãos, de ficar com o joelho sujo, cavoucar. É quando eu sou eu mesma, estou inteira ali. Me sinto conectada com o mundo e comigo mesma. Me sinto viva”, afirma a farmacêutica e bioquímica de formação, Angela Scheepstra-Wenzel, 50. Ela pegou gosto pelas atividades manuais quando foi morar na Holanda com o marido. “Uma vizinha me ensinou a fazer bonecas de pano”, diz.

Mas sua grande paixão eram mesmo as plantas e, ao voltar ao Brasil, há cerca de dez anos, escolheu uma casa com jardim para morar. Suas plantas acabaram chamando a atenção da vizinhança e um amigo lhe chamou para trabalhar em seu jardim. “É muito bom quando as pessoas reparam no trabalho que você fez. É bom para o ego”, diz Angela, que, há três anos, trabalha como paisagista.

De acordo com a neuropsicóloga Anita Taub, a mudança de foco de atividades abstratas e intelectuais para ações concretas e objetivas provoca estímulos diferentes no cérebro. Segundo ela, pessoas que desenvolvem um trabalho intelectual durante muitas horas e com uma sobrecarga de informação utilizam um certo tipo de função cerebral, como o raciocínio e a memória. Ao mudar a atenção para as mãos, elas ativam outras partes do cérebro.

“Por que pedimos para um paciente com dor apertar uma bolinha? Ele desfoca a atenção para mão. A dor sai da área cognitiva e passa para a motora e ele pára de pensar que está com dor”, exemplifica Anita, que indica trabalhos de habilidade manual para pacientes angustiados e ansiosos.

Para além de toda a função terapêutica, o simples prazer de trabalhar com as mãos já é o bastante para aquela tia que não larga o tricô, o marido que não sai da oficina de marcenaria por nada, a mulher que passa horas mexendo a terra no jardim. E a satisfação pessoal é tanta que o hobby torna-se profissão.

Profissional com as mãos

O empresário Alexandre Bacellar, 47, largou sua confecção de roupas, depois de 20 anos, para virar pizzaiolo. Bacellar é o típico “papai sabe tudo”: gosta de fazer coisas em casa, desde instalar a antena de televisão no telhado até construir carrinhos para o filho. “Sempre fui assim. Quando eu era criança, fazia pipas e vendia na feira. Durante a faculdade de economia, produzia sapatos de camurça para vender aos amigos. Com o dinheiro comprei minha primeira moto”, diz.

Dez anos atrás, Bacellar montou um forno de assar pizzas no quintal para receber os amigos. “A primeira massa ficou horrorosa. Nunca imaginei que teria uma pizzaria como negócio”, diz. Mas as “pizzadas” –em que ele mesmo era o chef-pizzaiolo– foram ficando mais freqüentadas e Bacellar resolveu abrir seu restaurante em Santana do Parnaíba, na região metropolitana de São Paulo, o Bendita Hora.

Mesmo depois de abrir uma filial na capital, ele continua com o avental de pizzaiolo no corpo –além de ter feito, com as próprias mãos, toda a reforma do imóvel com material comprado em ferro-velho. “Estou sempre com a mão na massa. E tento passar esse modo artesanal de fazer pizzas para os meus funcionários. As coisas só acontecem se são feitas com carinho.”

Esse caráter prazeroso das atividades manuais também levou o empresário José Pillon, 45, a largar uma rede de lojas de roupas para se dedicar à marcenaria, sua atividade de lazer preferida. “Sem dúvida nenhuma, a parte mais gostosa é o trabalho da marcenaria em si. Há muito para se olhar numa pequena peça de madeira, seguir o veio com as mãos. Sempre vejo as pessoas passando a mão nas peças”, afirma o marceneiro, que aprendeu o ofício com o pai.

“Meu avô também era marceneiro e o meu pai era médico. Juntei as duas coisas e virei um ortopedista”, brinca o médico Antonio Carlos da Costa, que é chefe da equipe de microcirurgias da Santa Casa de São Paulo. Cirurgião-ortopedista especializado em mãos, Costa lembra que, quando criança, não saia da oficina do avô e sabe que o que aprendeu ali faz dele um profissional melhor.

“O nosso trabalho precisa muito da destreza das mãos. Às vezes, temos de dar oito pontos numa veia com menos de um milímetro de largura com uma linha mais fina que um fio de cabelo”, explica. “Mas a melhor parte é quando uso as ferramentas que eu mesmo fiz em uma operação. Fico pensando que eu usei a mesma pedra de afiação que meu avô usava”, diz o cirurgião.

“A mão é tudo na vida de um sujeito, é o grande órgão executor”, afirma Costa, sobre a importância das operações de reimplante que faz. “São as mais cansativas e trabalhosas, mas também são as mais recompensadoras.” Não é para menos que, na etimologia, a mão significa princípio, ação, doação e labor.